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Cães modernos têm cérebros maiores que raças antigas, diz estudo

Pesquisa sugere que demandas atuais aumentaram tamanho das massas encefálicas dos animais de estimação

Por Marília Monitchele – Revista Veja, 15 Maio 2023

Os cães modernos, quando comparados aos lobos, têm um cérebro relativamente pequeno. Porém, uma pesquisa recente feita por cientistas húngaros e suecos, sugere que quanto mais distante as raças estão de seus ancestrais selvagens, mais seus cérebros têm aumentado. O aumento gradual, que acontece depois de milhares de anos de encolhimento, não pode ser atribuído às habilidades adquiridas ou a história evolutiva das raças. A hipótese mais provável indica que o fenômeno foi influenciado pela urbanização e pelo ambiente social mais complexo que os cães foram sendo inseridos.

Existem hoje cerca de 400 raças de cães conhecidas, e estas se desenvolveram com relativa rapidez. Há muito tempo os fatores que alteram o tamanho do cérebro é uma questão que intriga pesquisadores, dado que o cérebro humano foi um dos órgãos mais extraordinariamente modificados ao longo da nossa evolução.

Quando se trata de animais, algumas perguntas ainda carecem de respostas. Pesquisadores ainda questionam, por exemplo, se existe uma correlação entre o tamanho do cérebro e as habilidades específicas esperadas de uma raça, se existem diferenças entre o órgão de cães de estimação e cães de caça ou mesmo se a massa encefálica interfere na expectativa de vida ou na capacidade reprodutiva dos animais. Uma das poucas certezas compartilhadas entre os especialistas é que processos cognitivos complexos demandam muita energia, logo, um cérebro maior vem acompanhado de muitos custos para as espécies.

Estima-se que o cérebro de animais domesticados podem ser até 20% menores que o de ancestrais selvagens. Isso provavelmente acontece devido ao ambiente seguro e farto oferecido pelos humanos, em que não há necessidade de temer ataques ou de caçar comida. Logo, a necessidade de sustentar um cérebro energeticamente caro pode ser substituída por outros propósitos, como a geração de mais descendentes.

O estudo feito na Universidade de Eötvös Loránd, na Hungria, levou várias décadas de planejamento e é a primeira pesquisa abrangente a levar em conta a variação do tamanho do cérebro em diferentes raças de cães. Tomografias computadorizadas foram feitas em uma coleção de crânios que vinha sendo organizada há anos. Com base nas imagens, um veterinário reconstruiu digitalmente os cérebros e determinou seu volume. A pesquisa foi baseada nos dados coletados de 865 animais que representavam 159 raças de cães e 48 lobos.

De acordo com os resultados, o volume cerebral médio dos lobos gira em torno de 131 cm³, associados a um peso corporal médio de 31 kg. Em cães da mesma média de peso, o volume do cérebro corresponde a ¾ do estimado para lobos, o que equivale a aproximadamente 100 cm³. Esses dados confirmam a ideia de que a domesticação, de fato, levou a uma diminuição da massa encefálica canina. O que surpreendeu os pesquisadores, porém, é que quanto mais uma raça de cachorro se distancia geneticamente dos lobos, mais seu cérebro aumenta.

Os cientistas acreditam que esse fenômeno está relacionado à aproximação dos animais com os seres humanos. A domesticação começou há cerca de 25 mil anos, mas por mais de 10 mil cães e lobos continuam indistinguíveis na aparência. Alguns cães, como os Huskys Siberianos, até hoje guardam uma enorme semelhança com seus ancestrais. No entanto, a transição para o assentamento, a agricultura, a pastorícia e o acúmulo de riquezas ofereciam várias tarefas para os cães, exigindo cães de guarda, cães pastores, cães de caça e até cães de colo. Uma parte significativa das raças de aparência distinta conhecidas hoje só surgiu a partir da revolução industrial, principalmente nos últimos dois séculos, quando a criação de cães se tornou uma espécie de hobby. Os resultados mostram que a criação de raças de cães modernos foi acompanhada por um aumento no tamanho do cérebro em comparação com raças antigas.

As explicações para essa modificação, porém, continuam como especulação. Os cientistas não acreditam que o aumento possa ser explicado pelas tarefas que os cães passaram a desempenhar, tampouco por sua história de vida, mas sugerem que a complexificação do ambiente social, a urbanização e a adaptação a mais regras possam ter afetado as raças modernas.

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